Josevandro Araújo Almeida, nascido em janeiro de 1980 na cidade de Campina Grande, Paraíba, é filho do senhor José Lagoa (conhecido como Seu Zé Lagoa) e de dona Leta. Descendente de indígenas da etnia Potiguara, desde a infância demonstrava aptidão para a música, ouvindo frequentemente adultos elogiarem seu dom para o canto. Criado em uma família católica fervorosa, acompanhava o pai nas missas dominicais ainda criança, mergulhando nas tradições religiosas.
Na década de 1980, em meio à crise econômica que assolava o país, sua família migrou para o Sudeste. Em São Paulo, José fez amizade com crianças do bairro, entre elas três filhos de Indesí — nome de iniciação de uma mãe de santo do Candomblé Angola. Aos 11 anos, começou a frequentar o Inzo (terreiro) dela, onde era tratado como filho carnal devido à semelhança física com seus filhos. Ali, aprendeu a tocar jongoma (tambores sagrados) e a entoar cânticos do ritual angola.
Entre os 16 e 18 anos, afastou-se do terreiro por circunstâncias adversas e foi convidado por um amigo a integrar uma igreja católica. Durante esse período, completou a catequese, fez primeira comunhão, crisma e ingressou no ministério de louvor, cantando em casamentos e cerimônias por anos. Apesar da dedicação, a saudade do Candomblé persistia.
Em 2011, retomou suas raízes: voltou ao Candomblé Angola, foi iniciado no Nkisi Kitembu-Mdembwa-Tempo e recebeu o nome de Oroxixi. Na casa onde “renasceu”, tornou-se responsável por entoar os cânticos sagrados, unindo sua voz às tradições ancestrais que sempre ecoaram em sua história.
O Candomblé Angola é uma das vertentes do Candomblé, que é uma religião afro-brasileira com raízes profundas na cultura dos povos Bantu. Esta vertente é particularmente influenciada pelos rituais e crenças trazidos por africanos da região de Angola e Congo durante o período da escravidão. No Candomblé Angola, os deuses são chamados de Nkisi, e cada um possui suas próprias características, funções e formas de culto.
Os terreiros de Candomblé Angola são espaços sagrados onde ocorrem os rituais, que envolvem cantos, danças e o toque dos atabaques, instrumentos de percussão essenciais para invocar os Nkisi. A musicalidade é um aspecto central, com cantigas em línguas africanas como o quimbundo e o quicongo, que narram histórias dos Nkisi e guiam os rituais. As oferendas, ou comidas votivas, também desempenham um papel importante, sendo preparadas com ingredientes específicos para cada Nkisi como forma de homenagem e pedido de benção.
Por outro lado, o Tambor de Mina é uma expressão religiosa afro-maranhense que se destaca pelo seu rico sincretismo cultural e religioso. Embora compartilhe semelhanças com o Candomblé, como o uso de atabaques e a celebração de rituais em terreiros, o Tambor de Mina possui particularidades próprias, especialmente em relação aos seus orixás, que são chamados de Voduns, e na forma como os rituais são conduzidos.
Os rituais do Tambor de Mina são conhecidos por sua intensidade e pela importância da dança e da música, que são usadas para invocar os Voduns e criar um ambiente propício para a comunicação entre o mundo material e o espiritual. A estrutura musical é complexa, com padrões rítmicos específicos para cada Vodun, e os cânticos, muitas vezes em língua fon, ajudam a estabelecer a conexão sagrada.
Ambas as práticas, Candomblé Angola e Tambor de Mina, são manifestações culturais e religiosas que preservam a memória e as tradições africanas no Brasil, adaptando-se ao longo dos anos e resistindo a adversidades. Elas são exemplos vivos da diversidade religiosa afro-brasileira e da importância de manter vivas as práticas e conhecimentos ancestrais, que são transmitidos oralmente de geração em geração.